UM TEMPO PARADOXAL
Chegamos ao fim da linha. Vivemos hoje uma completa inversão de valores. O mundo virou uma grande antítese. O valor deu lugar ao anti-valor. Os adjetivos mudaram: honesto, agora, passou a ser sinônimo de trouxa; um ato de honestidade logo vira manchete no jornal; o sujeito que achou a maleta de dinheiro e a devolveu, ou é louco, ou é um extraterrestre. Hoje convivemos com o médico-monstro e com o juiz-ditador. O político que “rouba mas faz” é uma prova de que se pode ser um ladrão eficiente. A secretária que surrupiou a verba destinada ao Carnaval, na eleição seguinte, fez uma votação recorde. Escândalos financeiros e políticos elevam o seu protagonista ao estrelato. O tal Papagaio ganhou mais espaço na mídia do que muita gente boa. O político-meliante, espécie que abunda na fauna brasileira, vira celebridade nacional, ganha ibope e garante votos, muitos votos, nas próximas eleições. Aliás, parece que o próprio maniqueísmo desapareceu: o mal triunfou, o bem se escondeu e ninguém mais conservou o senso da noção de virtude.
Há exatos dez anos, quando concluí a faculdade de Direito na PUC, nós, os novos advogados, tínhamos por hábito criticar o uso abusivo das medidas provisórias como forma de legislar. Eu inclusive escrevi um artigo a respeito, que foi publicado no Dia da Justiça no Jornal do Comércio naquele mesmo ano. Há nove anos atrás, quando fui chamada para tomar posse no Tribunal de Justiça, precisei apresentar uma certidão negativa criminal. Àquela época, o TJ não queria condenados criminalmente em seu quadro funcional. Perfeitamente compreensível.
Hoje, entretanto, o TJ condena o réu e depois o admite como servidor, dando-lhe um polpudo cargo comissionado: assim é que o companheiro Flávio Koutzii, ou melhor, “Laerte”, hoje faz parte da Assessoria Especial da Presidência do Egrégio Tribunal de Justiça do RS. O mesmo Koutzii condenado por crime de injúria (processo 70003279015). A notícia pode ser lida pelo link abaixo:
http://www.tj.rs.gov.br/site_php/noticias/mostranoticia.php?assunto=1&categoria=1&item=22468
Bom, e agora, nosso amigo Flávio, ou Laerte, desde junho passado é servidor do Tribunal. Olhem lá o colega que foram nos arranjar!!! Se não for gozação, é mais uma antítese... Laerte, ou Flávio, ganhou um CC 11 e, certamente, não precisou apresentar a tal certidão negativa criminal, a mesma que nós, servidores concursados, e que nunca apontamos armas a ninguém, tivemos que apresentar. Pois o ex-deputado Koutzii agora faz parte do time da assessoria da presidência do nosso Egrégio Tribunal. Viva a transparência!
A seguir, um valioso conselho que recebi por e-mail, semana passada, a respeito das FARCs na Colômbia, plenamente aplicável ao caso em tela:
"Se os terroristas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) forem espertos, farão exatamente o que os terroristas brasileiros fizeram: se entregam, passam a integrar a democracia colombiana, concorrem e se elegem deputados e senadores, criam uma lei de 'indenização por perseguição política' e, em poucos anos, ganharão altos cargos no governo com aposentadorias e indenizações milionárias. E o país que se foda." | ||||
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