DESABAFO DE UM "PEÃO-PADRÃO" ANTE O DOMÍNIO
A propósito do próximo Congresso do Sindjus, cujas eleições de delegados se realizam hoje, vai aí um poema que bem poderia sintetizar uma "tese" para o evento:
Desabafo de um “Peão-Padrão” ante o domínio.
Quero viver, não permitem,
Quero morrer, me proíbem.
Sou uma máquina a serviço
Da vontade dos meus donos,
Tantos são que os desconheço
(De tantas formas me oprimem,
Não sei se são acionistas
De uma multinacional,
Se “autoridade”, eleitores,
Ou simplesmente matronas,
Donas de casa oprimidas,
Que oprimem pra aliviar
Das maneias que lhes prendem).
Não tenho prazer nenhum.
Só o tédio e o sobressalto
Movimentam minha vida:
A ameaça, a cada instante,
De desemprego ou castigo,
Da fome que bate à porta
E se dribla na cachaça.
Me esfolam vivo, me engolem,
Me cospem e me vomitam,
Me trituram nos moinhos
Que movo com os meus braços,
Me usam pra produzir
O prazer abastardado
De um punhado de malditos,
Que c’oa vida que me roubam
Entesouram propriedades,
Poderes e arrogâncias,
E satisfazem, na orgia
Do sadismo “revoltado”,
Seu vazio de mentes mortas,
Sua falta de sentido,
Sua alma oca e sem graça!
Estas “múmias” que se odeiam,
Que condenam-me a cachaça,
Que têm horror à gandaia,
Só gozam me torturando.
Suas ocas vidas, podres
Do “recalque” do poder,
Do orgulho de esfolar
E expor aos esfolados
O chique dos seus “dourados”,
Precisam da minha alma,
Do meu corpo, do meu ser
Pra produzir o seu tédio
Regado em champanhe fino,
Pulverizado na coca,
Que, tresloucados, lhes dá,
Por algumas horas “brilho”
Para o oco de suas almas.
Necessitam que eu seja
Uma peça sem vontade,
Desgastada a cada dia,
Pra fabricar a moeda
Com que compram corpos frios,
“Panteras” belas e lúbricas,
Sem nenhuma emoção,
Que compartem amargura
E anseio de torturar.
Não querem que eu seja gente,
Mas não deixam-me virar
Alma penada sequer.
Sou seu brinquedo odiado,
Sou o gado que carrega
O fardo da sua tara
E, sem direito a nada,
Vive no limbo amargando
O trabalho e o cansaço
Pra que a “reina” dos patrões
Seja “fina” e “colunável”.
Gravataí, 18 de novembro de 2006
Ubirajara Passos