DIA DA (IN) JUSTIÇA
Mas o que há de tão alarmante em relação ao riso?” pergunta Guilherme.
“O riso mata o temor”, responde o venerável Jorge. “E sem o temor, não pode haver fé. Pois, sem temer o demônio, não há necessidade de Deus.”
“Mas não eliminarás o riso eliminando esse livro.”
“Certamente que não. O riso continuará sendo a recreação do homem comum. Mas o que acontecerá se, graças a esse livro, homens cultos admitirem ser permissível rir de tudo? Podemos rir de Deus?”
Humberto Eco – O Nome da Rosa
Hoje, 8 de dezembro de 2008, nós, servidores do Judiciário Gaúcho, nada temos a comemorar: um aceno com uma esmola de 15,73% , em três suaves prestações, como proposta de reajuste a ser encaminhada à Assembléia; mudança de horário para janeiro de 2009 (exceto para os feudos, digo, gabinetes); desrespeito total para com os servidores concursados, perseguições à solta e caça às bruxas.
Yeda e Armínio, muito amigos, agora unidos também contra os professores. Pobres professores! Terão seus dias de greve descontados, agora com o exclusivo respaldo do Poder Judiciário... Yeda com seus 143% de aumento, Judiciário com seu gordo subsídio, e os professores... meu Deus, que vergonha!
Neste ano de 2008 saiu até curso pra jornalista dentro do Tribunal- parte de uma estratégia maior que serve à implementação da ditadura do judiciário. O curso teve um único objetivo: amordaçar os profissionais da mídia.
Acorda, Themis! Tira essa tua venda de imparcialidade porque nós sabemos que tu estás só te fingindo de cega. E o pior cego, querida, é aquele que não quer ver. A Themis do Tribunal Gaúcho é surda, cega e muda. Em resumo, uma incapaz, uma omissa, que não faz nada para não se incomodar.
Que Justiça é esta, que usa dois pesos e duas medidas? Por que a Magistratura recebeu de uma vez só tudo o que lhe era devido de URV, e os servidores amargam há anos o recebimento da sua como se fosse um guisadinho, uma esmola que mal dá pra fazer um supermercado? Por que Suas Excelências têm direito ao subsídio e nós não recebemos nada? Por que o direito deles está explícito na Constituição, e o nosso depende de regulamentação?
Quer saber, gente? Pra mim, aquela medusa horrenda grudada no prédio do Palácio diz muita coisa...
Os valores foram completamente invertidos neste país: pessoas que metem o dedo na cara dos outros e denunciam, como o Bira, o delegado Tubino e eu, acabam sendo discriminadas e marginalizadas: o denunciante de ontem vira o meliante da hora. O que devia ser feito por um simples dever de cidadania vira um fato inusitado no país dos petralhas.
O Tribunal que argúi a Resolução 7 do CNJ e cala sobre a Súmula 13 do STF, posterior e vinculante, na verdade está dando o seguinte recado: os parentes só sairão por decisão do STF. Pois enquanto eles estão lá, usufruindo das benesses proporcionadas pelo crachá roxo, eu, que entrei pela porta da frente, estou suspensa. Meu processo é baseado num suposto crime de opinião, totalmente banido pela Constituição Federal. A suposta honra que eu estou maculando nada mais é do que um prédio de concreto. Paredes têm honra???
Ouvidos eu sei que têm... mas honra... isso é novidade pra mim! Na Faculdade de Direito, me ensinaram que os crimes contra a honra dependem da representação do ofendido. Se eu ofendi o prédio inabitável (sem habite-se), quem vai representá-lo, afinal? Quem é o espírito do concreto? Será a famosa flor do DEAM? E, falando em concreto, será ele armado? Guardará relação com as encomendas de Viagra que continuam em alta?
A par de tudo isso, escândalo estourando de tudo quanto é lado, surge Armínio, o Grande Moralizador do Judiciário, fazendo com que os servidores preencham declarações de parentesco, quando ele mesmo se recusa a exonerar os parentes empregados. Como - dizem - está de olho na verba do Tribunal Militar (acaso seja extinto) para o Justiça, então chegou a hora de avisar a imprensa para que noticie que é lá no TJM que tem nepotismo... a estratégia parece ser a de tentar reverter tudo quanto é escândalo em seu próprio benefício. Fazendo do limão uma limonada, hein?
O processo administrativo que eu sofro tem dois ou três ofícios, assinados pelo araponga-e-laranja Ivan, e de resto são as páginas deste blog impressas, numeradas e rubricadas. Fico feliz que estejam gostando de ler! Imagina se fossem novenas ou o terço do Padre Marcelo Rossi (cem vezes, repetindo “obrigado, Senhor!”)
O processo do Bira fala em textos obscenos, porque ele larga um que outro palavrão. Acredito que se existe alguém que foi profundamente ofendido, foi ele, o Bira, pois a arapongagem foi fuçar no blog pessoal dele para dizer que o cara é obsceno. Obscenos são vocês, arapongas fajutos!
Temos aqui no RS uma Themis bifronte, à semelhança do deus Jano: quando se mostra para a sociedade, vem com aquela história da moralização, do fim das regalias, do Tribunal transparente; todavia, quando fala com os servidores, que convivem diariamente com a sua TPM, a tal da Themis mostra realmente quem é: hostil, truculenta, perseguidora e despótica.
Denior e Sadao respondem a sindicâncias porque ousaram fazer uma reunião no local de trabalho, representantes sindicais eleitos que são, assim como o Bira e eu. O marionete-e-almofadinha do Diretor não gostou, melhor, disseram pra ele que não era pra gostar. Pois os guris tiveram a prepotência de passar um abaixo-assinado solicitando uma audiência com o Armínio. Quanta petulância, meninos! Pois tomem lá essa sindicância, fiquem bem quietinhos na Corregedoria, que a turma do avental vai lhes aplicar umas boas palmadas! Vocês vão ganhar uma vara de marmelo, digo, arminelo, neste Natal.
A caça às bruxas, portanto, continua dentro do Tribunal.. mas será inútil... tal e qual o corcunda Salvatore, do filme O Nome da Rosa – lembram? – tentando apagar a fogueira assoprando-a, os ímprobos, nepotes e demais excrementos é que arderão no mármore do inferno por conta das perseguições ridículas que estão promovendo contra mim e contra os colegas. O tempo do Feudalismo, do nepotismo, do favoritismo e de outros ismos está chegando ao fim.
Tomara que exatamente daqui a um ano eu possa escrever aqui neste blog um “viu só? Valeu a pena!” – e possa, então, comemorar o Dia da Justiça. Por enquanto, infelizmente, o Dia da Justiça é só uma pilhéria...
Boa semana a todos