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Movimento Indignação
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15 novembre 2020

Hoje a vida está mais triste... Morreu o companheiro Jorge Dantas, grande guerreiro de nossas causas e do movimento social

Dantas_2007_page_0001Manifestação no Largo Glênio Peres, inverno de 2007: Ubirajara Passos, Luiz Mauro e JORGE DANTAS

É com uma tristeza doída e absoluta que noticiamos a morte do nosso grande e inesquecível companheiro, o camarada Jorge Dantas, que esteve presente em tantos e fundamentais momentos de nossas vidas, desde que começamos a trilhar a vereda do combate por uma vida digna, pontilhada pela curiosidade e alegria, para a peonada trabalhadora, com que comungamos o pesado fardo que mantém andando e movimenta nosso mundo, na já longínqua década de 1990.

Foi na luta sindical dos trabalhadores do Judiciário gaúcho que o conhecemos, e estreitamos nossa profunda amizade com este militante incansável, irrequieto e entusiasmado, de todas as causas populares, do Sindjus ao Movimento Negro, entidades cuja junção, em sua militância, nos anos de 2005 e 2006 lhe propiciaram o grande momento de sua vida, quando esteve à frente do movimento que resultou na titulação do primeiro quilombo urbano do Brasil, o Quilombo Silva, em Porto Alegre, com cuja população criou laços de duradoura estima e luta, no período em que lá esteve, combatendo no dia a dia por sua causa.

Dantas_2012Reunião com Jair Krischke na sede do MJDH, outubro de 2012: JORGE DANTAS, Ubirajara Passos, Jair Krischke e Valdir Bergmann

 Nascido no berço urbano da ocupação do extremo sul do Brasil, a cidade de Rio Grande, em 11 de março de 1958, foi na Grande Porto Alegre que o camarada Jorge Correa Dantas, operador de terminal celetista no Foro Central desde a década de 1980, encontrou o seu destino, batalhando na sua entidade de classe, onde foi diretor da executiva por duas ocasiões, na gestão presidida pela companheira Lúcia Saldanha Caiaffo, entre os anos de 1990 e 1991, e na gestão coordenada pela companheira Magali Bitencourt, de 2004 a 2007, quando organizou o Coletivo de Raça e Gênero do sindicato, que lhe oportunizou o engajamento in loco na luta do Quilombo Silva. Sua luta, porém, não se restringia ao sindicalismo, estando sempre presente na luta social da periferia, nas vilas populares em que morou, da Vila dos Sargentos à CoHab do Rubem Berta, em Porto Alegre, a Alvorada e a Vila Augusta, em Viamão, só para citar os diferentes bairros em cuja residência costumava refugiar-me depois de longas horas de animada conversação, que ía da revolução libertária à projeciologia, noites e madrugadas adentro. 

Foi Jorge Dantas, na primeira década do milênio, que me apresentou aos bares noturnos do Mercado Público, como o Pacífico, onde se podia então bebericar ao som das apresentações de Jorginho do Trompete, e que me mostrou, pela primeira vez, o assentamento do Bará, no cruzeiro central do mercado. Com ele, eu burro chucro metido a intelectual do povo, fui à minha única peça de teatro na vida, no caso teatro de arena, realizada nas antigas celas do Hospício São Pedro, numa tarde de sábado, faz uns quinze anos, "Hamlet Sincrético", cujo elenco era majoritariamente negro, contando com um único ator branco, de que ainda tenho comigo guardado o prospecto.

dantas_2011Intervalo do Conseju 2011, junto a Praça Osvaldo Cruz: JORGE DANTAS, Walter Tentler e Milton Dorneles

Nos agitados anos do início do século, estivemos juntos em atividades sindicais não só em Porto Alegre, mas em Santa Rosa, terra do nosso saudoso amigo e companheiro Valdir Bergmann, e em Curitiba, em Congresso da CoordenAÇÃO dos servidores da justiça estadual. E conosco esteve presente, desde o primeiro dia, nas lutas do Movimento Indignação, sendo nosso candidato em todas as ocasiões em que nos lançamos à tentativa de resgatar o Sindjus para os trabalhadores da justiça, concorrendo à direção executiva nas chapas do Movimento em 2010 e 2013 e, em 2016 na chapa Pralutar, forjada na junção do Indignação com as lideranças do Foro Central, na greve de 2015, ocasião em que ele ocupava, junto aos camaradas Jorge Volkart e Francioli Buzzati, o posto de Representante de Local de Trabalho no foro. 

Foi graças a este colorado irreverente e inquieto (junto ao qual assisti, em sua casa, no Rubem Berta, numa madrugada de 2006, a partida em que o Internacional se consagrou campeão mundial no Japão, com um inesperado gol do Gabiru), que frequentou a Faculdade de Serviço Social, mas vivia e se comportava com a mesma humildade e esperteza popular de seus camaradas da periferia, que escapei de tornar-me um sindicalista entojado e metido a intelectualoide, tingindo-me a militância política da dimensão concreta e pessoal da nossa vida de peões cuja luta tem de ir muito além dos altos ideiais abstratos de liberdade e justiça social, mas só se justifica na convivência alegre e comum do dia-a-dia, do lar ao buteco da esquina. 

Dantas_e_ISADORAMeu compadre JORGE DANTAS e sua afilhada Isadora Freitas Passos, em Gravataí, no 4.º aniversário dela,  1.º de setembro de 2012

Foi assim que, quando nasceu minha filha, Isadora Freitas Passos, em 2008, convidei-o, e a sua esposa Ieda, para apadrinhá-la na umbanda (desconhecendo, então, que a entrada nesta religião afro-brasileira não se dá por liturgia com recém-nascidos), o que, aceito pelo casal, tornou-nos, desde então compadres, "título" pelo qual passamos a tratar-nos pelo resto da vida. A última ocasião em que estivemos juntos, eu, Dantas, sua afilhada, mais minha enteada Larissa e os companheiros Jorge Volkart, Régis Pavani e Thiago Trocolli, foi numa reunião do Coletivo Pralutar, num barzinho da Cidade Baixa, na tarde de 2 de agosto do ano passado, depois de uma manifestação de protesto em frente ao Tribunal de Justiça. Já em outubro, em plena Greve de 2019, conversamos animadamente na Praça em frente ao Tribunal e ele me convidou para visitá-lo, mais uma vez, em sua casa, desta vez com a Isadora. As correrias e a doideira da pandemia de 2020, no entanto, impediram que isto acontecesse e nossos últimos contatos foram em uma rápida mensagem trocada pelo messenger em abril, quando o compadre me autorizou a incluir sua assinatura no Manifesto da Frente Gaúcha de Servidores do Judiciário pela Vida e Pró-Impeachment, e pelo whats app, em 18 de junho, quando lhe questionei como ia a saúde e ele me deu conta de que estava fazendo hemodiálise e curando úlceras; andando de muletas e suportando a dor física, que melhorava e piorava conforme os dias. Desde então não nos falamos mais e ontem ainda, não sei por que, me veio à lembrança um tantos episódios da nossa amizade.

Hoje, infelizmente, não nos resta mais do que transmitir, aqui, o nosso grande pesar aos familiares, amigos e tanto outros camaradas por cujas vidas Jorge Dantas passou, agitando com seus entusiasmo característico e adoçando, não só com os seus quindins, mas com a profunda ternura de um militante não apenas da causa socialista libertária e do movimento negro,  mas  da VIDA, os nossos pesados e rotineiros dias.

As despedidas ao camarada se darão hoje, das 15 h às 18 h, na capela 5 do Crematório Angelus, na Avenida Porto Alegre, 320, em Porto Alegre.

 

Ubirajara Passos

 

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Um blog para lutar em defesa dos Servidores da Justiça do Rio Grande do Sul. Os autores propugnam pelos princípios republicanos; almejam uma sociedade justa

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