Canalblog
Editer l'article Suivre ce blog Administration + Créer mon blog
Publicité
Movimento Indignação
Movimento Indignação
Newsletter
Movimento Indignação
31 octobre 2010

Censura

                                                                                                                                                                                                                                                

                                        (Uma homenagem a Taiguara)                                                                          

taiguara_300x213 A censura leva, de uma forma geral inexoravelmente ao exercício da estupidez.  Cargos de censor normalmente são ocupados por mentes mesquinhas e    reizinhos de lata. O censor, um burocrata, sem criatividade, quase sempre sem  cultura e percepção, alçado a uma posição de poder sobre mentes altamente criativas e sensíveis, indivíduos de alta sensibilidade não hesita em humilhar e  espezinhar o autor, jornalista ou artista.   

Pessoalmente assisti a pelo menos dois incidentes de comportamento que varia desde a grosseria até o anti-social, e chegando à ameaça gratuita e explicita a indivíduos longe de serem agitadores ou militantes de esquerda.

A primeira situação foi a proscrição de um livro chamado “O Canhão e a Foice”. É a história de um canhão retirado sub-repticiamente da fábrica da Skoda em 1946 e levado para Israel durante os combates de 1948-49. Sem que ninguém saiba, a arma havia sido produzida nos últimos dias da ocupação alemã em Praga, por mão de obra de escravos que conseguiam sabotar o pino percussor de um em dez canhões. Este é um dos canhões sabotados, porém ninguém se dá conta disto. A cada tanto o canhão é capturado pelo outro lado, pois falha no momento vital, passando de Israel aos Sírios em 1949, sendo capturado de volta um ou dois anos depois, sendo levado de novo por um exército árabe mais adiante e sendo recapturado em 1956.  Após a última recaptura a arma está obsoleta e é sucatada. O cano do canhão vira um tubo para conduzir água de um campo para outro. Sacaram?  “O Canhão e a Foice”. Foice: agricultura.  Um censor implicou com a foice do nome, não leu o livro e o proscreveu. Foi retirado das livrarias após 1964, sob protestos do editor que não conseguiu ser ouvido.

A segunda situação se prendeu à autorização de apresentação  uma peça de teatro musical criada por alguns estudantes universitários em Porto Alegre por volta de 1967. Baseava-se na “Descoberta do Mundo Segundo Ary Toledo”, disco na época à venda em qualquer casa de discos. Os estudantes em questão, se não eram neutros tendiam a serem alinhados com o governo militar. Não houve maneira de ser liberada. Não tinha nada de cunho político, mas o sensor enxergou no texto alguma ironia velada ao regime, talvez por um ressentimento contra qualquer grupo envolvido com teatro, “coisa de esquerdistas”.

Este fim de semana, meu amigo Magu, na seção “Flashbacks do Magu”, do site Prosa & Política, em que renova a memória de artistas de décadas passadas apresenta alguns Youtubes de músicas do Taiguara.

Taiguara foi um dos mais completos músicos de sua geração. Compunha a música, escrevia os versos e cantava com rara capacidade de comunicação. Se eu fosse citar um compositor/interprete atual com o mesmo carisma me ocorreria Ivan Lins.

Nascera no Uruguai, quando o pai, bandeonista se apresentava lá e viveu quatro anos naquele país. Tinha alguns costumes uruguaios, como o de tomar chimarrão, o que faz com que muitos admiradores gaúchos jurem que ele é gaúcho. Na realidade depois dos quatro anos de idade viveu no eixo Rio de Janeiro – São Paulo.

Participou de vários festivais e programas da TV. Fez bastante sucesso nas décadas de 60 e 70. Foi autor de clássicos da MPB, como Hoje, Universo do teu corpo, Piano e viola, Amanda, Tributo a Jacob do Bandolim, Viagem, Berço de Marcela, Teu sonho não acabou.

Durante a censura teve mais de 100 canções censuradas. Acabou por se auto-exilar em 1973 e 1975. Quando voltou em 1980 seu  momento havia passado, se bem que não raro os seus maiores sucessos são lembrados em programas de rádio, pois existem  fiéis admiradores do seu talento.

Faleceu em 1996 aos 51 anos, vítima de um câncer de bexiga. Um talento derrotado pela mesquinharia, pela falta de coragem de aceitar certo nível de dissidência na sociedade.  Além do próprio Taiguara quem perdeu foi o Brasil e a MPB.

Posto isto, e considerando o que sabemos da “arte oficial” e da “imprensa chapa branca” em países como Cuba, Venezuela e nos antigos regimes da Cortina de Ferro, sem nos esquecermos dos autores, atores, jornalistas e cineastas proscritos pelo Macartismo, será que podemos confiar em comissões, normalmente compostas de nulidades,  para controlar a disseminação da informação, da cultura e da expressão artística?

Repito o que disse acima. Censores são geralmente pessoas com ciúme dos artistas, não são pessoas muito arejadas, e adoram exercer o poder particularmente porque não-raro são pessoas que normalmente não teriam qualquer cargo de projeção  Sem criatividade, ou talvez sentindo que têm criatividade não-reconhecida tornam-se algozes de outros artistas.

Abaixo incluirei uma crônica do Augusto Nunes sobre o mesmo assunto. Mostra claramente que a doutrina do “linguajar politicamente correto” por si só já é uma ameaça à liberdade de expressão.

Ralph J. Hofmann

*************

O que uma mente deturpada é capaz de fazer! (29/10/2010)

A jequice da era da mediocridade não deixou escapar nem o criador do Jeca Tatu

Augusto Nunes

O Brasil conseguiu ficar mais jeca, resumiu o título do post publicado em setembro de 2009 e reproduzido na seção Vale Reprise. Depois de descrever a inverossímil quermesse patriótica montada para celebrar a fantasia do pré-sal, que chegou ao clímax com a Proclamação da Segunda Independência pelo presidente Lula, o texto reitera nas três últimas linhas que os brasileiros ainda providos de lucidez continuavam a enxergar as coisas como as coisas são: “Sem parentesco com o país que o governo inventou, o Brasil real não mudou. Só conseguiu tornar-se ainda mais metido a esperto, mais grosseiro, mais caipira, mais jeca. Toda nação acaba ficando parecida com quem a governa”.

Ficou mais parecida ainda nesta semana, informa o parecer do Conselho Nacional de Educação publicado no Diário Oficial da União de quinta-feira. Segundo a entidade, o livro “Caçadas de Pedrinho”, do escritor Monteiro Lobato, é perigoso demais para cair nas mãos dos alunos de escolas públicas. Em que pecado teria incorrido o pai de personagens - Emília, Narizinho, Dona Benta, Visconde de Sabugosa, Tia Nastácia, o próprio Pedrinho - eternizados no imaginário de milhões de crianças brasileiras? Que crime teria cometido o admirável contador de histórias que inoculou em incontáveis gerações o amor à leitura?

Monteiro Lobato é racista, acaba de descobrir Nilma Lino Gomes, professora da Universidade Federal de Minas Gerais, que redigiu o documento endossado pelos demais conselheiros. No livro publicado em 1933, ela identificou vários trechos grávidos de preconceito, sobretudo os que envolvem Tia Nastácia, macacos e urubus. “Estes fazem menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano”, explica a vigilante conselheira. Num deles, “Tia Nastácia é chamada de negra”. Noutro, trepa numa árvore “com a agilidade de um macaco”. Solidários com o obscurantismo dos conselheiros, os companheiros da Secretaria de Alfabetização e Diversidade do MEC já resolveram que “a obra só deve ser usada quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil”.

Quem não compreende coisa nenhuma é o bando de ineptos alojado nas siglas que vão colocando em frangalhos o sistema de ensino. Quem precisa tratar processos históricos com menos ligeireza são os cretinos fundamentais que ousam censurar a obra de um escritor genial. Só burocratas idiotizados pelo politicamente correto tentam aprisionar nos porões criaturas que excitaram a imaginação de milhões de pequenos brasileiros.

Ironicamente, um dos filhos literários de Monteiro Lobato é o Jeca Tatu. Nasceu para ensinar que o Brasil só conheceria a civilização se erradicasse o atraso crônico, as doenças da miséria, o primitivismo cultural - a jequice, enfim. No Brasil do presidente que não lê, não sabe escrever e celebra a ignorância, o caipira minado pelo amarelão, que fala errado e se imagina esperto, virou modelo a imitar. Ser jeca está na moda, rende votos, aumenta a popularidade. Pode até garantir o emprego de conselheiro nacional de educação.

******************

Nossa reverência ao intelectual e defensor da liberdade de expressão  Ralph J. Hofmann,  de quem tomamos a liberdade de copiar a edificante matéria acima.

A versão original está postada no sítio  de  Adriana Vandoni,

-  PROSA e POLÍTICA, censurado na rede de computadores do TJ-RS


                                                                                                       Movimento IndignAÇÃO

 

Publicité
Commentaires
A
Esse absurdo foi promovido por quem não tem a menor experiência com literatura e muito menos com Monteiro Lobato. Veja aqui quem são as pessoas envolvidas nessa sandice: http://domaugostodamateria.wordpress.com/2010/10/29/querem-censurar-monteiro-lobato/<br /> <br /> Abraços<br /> Alexandre Rezende<br /> jjohnconstantine@gmail.com
Répondre
Publicité
Movimento Indignação
Movimento Indignação

Um blog para lutar em defesa dos Servidores da Justiça do Rio Grande do Sul. Os autores propugnam pelos princípios republicanos; almejam uma sociedade justa

Archives
Visiteurs
Depuis la création 380 474
Pages
Suivez-moi
Publicité