do site PROSA E POLÍTICA
A história de Simone
(Adriana Vandoni) Hoje quero contar a vocês a história que me foi repassada por um amigo. A história de uma mulher de fibra, de coragem, que ousou denunciar o que via de errado. Simone Janson Nejar, um misto de heroína e vítima da sua própria sensibilidade, coragem e ousadia. Leia o relato abaixo:
"Simone denunciou o Tribunal de Justiça do RS por nepotismo, indicou que funcionários com cargo em confiança são 60% dos contratados do tribunal e estão em todos os cargos operacionais, sendo os concursados, mesmo se formados em direito e aprovados no exame da OAB, destinados a trabalhos sem expressão. Mostrou o milagre que faz com que um advogado concursado ganhe no máximo R$ 4.000, enquanto uma pessoa admitida em cargo de confiança receba duas e meia vezes isto, sem ter nem que provar sua qualificação.
Ela denunciou tudo isso. Durante um tempo Simone foi festejada, por um momento ela até pensou que veria o efeito de sua denúncia. Acreditou que o TJRS fosse então policiar-se. Mas não, o Tribunal determinou que Simone fosse isolada.
Começou então uma seqüência de danos e perseguições. Cortou seus vencimentos, fez com que fosse seguida em público pelo subchefe da segurança. Isso mesmo, misteriosamente quando ela sai para fazer sua caminhada diária sempre ha alguém atrás dela.
As semanas passam e assunto passa a não mais ser comentado. Simone ganhou cobertura de uma das redes de televisão do RS, mas não da principal, e isto por algum tempo. A maior revista noticiosa do país a entrevistou varias vezes, fotografou, mas não publicou sequer uma nota sobre o assunto. A causa apenas está viva nos Blogs e nos Newsletters.
Simone, que além de advogada é “chef de cuisine” tem publicado receitas no Newsletter Videversus para ao menos ser lembrada pelos 300.000 leitores desta mídia uma vez ao dia.
Para um herói moderno no Brasil nada é fácil. Uma organização como o Tribunal de Justiça pode infernizar sua vida por anos a fio, abertamente ao arrepio da lei. Isto é pago pelos contribuintes.
Já o herói precisa ter amizades com advogados que estejam dispostos a se engajar em causas merecedoras, e estará o tempo todo lutando para arrancar de alguma maneira seu sustento. Mesmo em casos onde a autoridade esteja óbvia e claramente burlando a lei nada é feito para inverter a situação senão anos depois. O poder público pego em “flagrante delito” nega, nega sempre, e acusa a outra parte, a mais fraca, daquilo que quiser.
O herói fica como a mulher estuprada que vai fazer um boletim de ocorrência e o policial a culpa por provavelmente ter feito algo para despertar no estuprador um desejo incontido.
Não é fácil ser herói no Brasil. É preciso mais que coragem, é necessário desprendimento, abnegação e uma família que encare os risco de ser parente de um herói.
Mas nem todos entendem. Inicialmente os parentes ficam orgulhosos, com o temo e o desgaste passam a sentir-se irritados. Passam a recriminar a pessoa por ter se exposto. Ainda mais quando parece que podem estar seguidos, que seus telefones e e-mails podem estar grampeados ou invadidos por hackers.
No Brasil, volta e meia ouvimos falar de assassinatos de testemunhas e pessoas inconvenientes. O desaparecimento bem sucedido de uma dessas pessoas na maioria dos casos significa que tudo cairá no esquecimento e será dirigido ao arquivo morto.
Isto significa que uma pessoa como Simone Janson Nejar, por ridículo que possa parecer, em pleno século vinte e um, corre perigo de sofrer violência ou até morte. Se não for lembrada pela mídia com bastante freqüência.
Este artigo contém anexos, que dão uma idéia do que é o processo. Mas é muito mais uma peça para manter a nossa heroína, que pôs a boca no trombone, acesa na memória de todos. Passem adiante, escrevam comentários, reclamem na polícia federal, sempre que sentirem que a tentativa de corrigir crimes está para causar problemas para uma pessoa abnegada e honesta. Isto pode até ser necessário para salvar uma vida
Ouvimos muito falar em democracia participativa. A verdadeira democracia não é uma câmara de vereadores adicional que decida quais bairros terão as lâmpadas de rua trocadas.
A verdadeira democracia participa fiscaliza e denuncia, leva pessoas à frente dos prédios públicos reclamar contra injustiças.
E o fato de milhares de pessoas se manifestarem, não em grupelhos orquestrados com bandeiras, alto falantes e carro com refrigerante, mas espontaneamente, passando mensagens um para o outro, para defender as causas que foram levantadas. Para alijar nepotes e patrocinadores de nepotes, e outros casos piores.
Do site videversus do Jornalista Vitor Vieira:
Tribunal de Justiça gaúcho suspende por 60 dias funcionária que denuncia nepotismo na Corte
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em uma atitude insólita, suspendeu nesta segunda-feira a funcionária Simone Janson Nejar, por 60 dias, preventivamente, ao mesmo tempo em que determinou a abertura de um processo administrativo com vistas a demití-la, suspendê-la (o que já fez, antes de qualquer julgamento) ou repreendê-la. A abertura do inquérito foi determinada na última sexta-feira, pela Portaria nº 02/2008-2ª VP, assinada pelo desembargador Jorge Luis Dall’Agnol, vice-presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Ele determinou a abertura do processo administrativo com base em denúncia apresentada pela arapongagem do Tribunal. A denúncia é assinada pelo araponga Ivan Carlos Campos Ribeiro, sub-chefe da “Equipe de Segurança” do Tribunal de Justiça. A denúncia é um escândalo. Ocorre que este “araponga” fajuto, porque nem é araponga de carreira, é um dos denunciados anteriormente pela funcionária Simone Janson Nejar como um dos mais notórios casos de nepotismo que ocorrem no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.
Ele é marido de Adriana Barcelos da Silva, que trabalha secretariando na Presidência do Tribunal de Justiça. Ele é CC (cargo em comissão, cargo em confiança), e sua manutenção no cargo contraria a Súmula Vinculante nº 13 do Supremo Tribunal Federal, que trata do nepotismo. A funcionária Simone Janson Nejar foi citada hoje, mas a direção do Tribunal de Justiça se recusou a lhe dar uma cópia integral do processo em que está sendo acusada de... ter opinião, além de exigir o cumprimento da Súmula Vinculante nº 13. Mais do isso, a totalidade da denúncia é baseada nas notas postada pela funcionária Simone Janson Nejar em um blog, no endereço http://grupo30.canalblog.com. A denúncia é uma fantástica lição de puxa-saquismo, em que um CC (cargo de confiança) sai em defesa dos seus empregadores. Parece que o araponga não tem mais nada a fazer do que ficar monitorando o blog da funcionária. Entre as acusações que ele formula a ela está o notável apontamento de que Simone Jansen Nejar causa “constrangimento” aos arapongas do Tribunal de Justiça porque fica no balcão da portaria falando sobre o nepotismo na Corte. A denúncia, sem dúvida, é daquelas para entrar para a história do Judiciário brasileiro."
fonte: www.prosaepolitica.com.br