Conversa pra boi dormir e criancinha bocejar
Outro não é o sentido da reiterada afirmação dos "negociadores" do Tribunal de Justiça, junto à Executiva do Sindjus, de que só pode definir o índice de reajuste a ser proposto após a votação do Orçamento pela Assembléia Legislativa.
A mais simples dona de casa, ou mesmo um matuto analfabeto criador de galinhas, sabe que, para se orçar uma despesa é necessário conhecer o valor unitário da mercadoria a ser comprada ou do serviço a ser pago. Se você tiver em mãos a leitura de seu consumo de água do último mês, mas não a conta, só é possível calcular o total a ser pago se conhecer o preço do m³.
O fato é que o total do orçamento a ser atribuído ao Judiciário só pode ser definido após a fixação de cada despesa. E não há como calcular o total da folha de pagamento sem antes determinar qual o índice de reajuste que será aplicado sobre ela.
Conseqüentemente, se existe proposta orçamentária a ser votada, é porque o índice já está determinado. Apenas não foi informado para nossos "ingênuos" dirigentes sindicais, até para que, votado o orçamento, e nele amarrada a possibilidade de despesa com salário, não haja negociação alguma. Já que, votado o orçamento, o reajuste a ser dado não poderá ultrapassar, legalmente, a despesa fixada.
Na verdade, o Tribunal manobra descaradamente para impor o percentual de reposição que bem entender, que certamente não chegará nem próximo dos 30% reivindicados imediatamente, e sequer passará por perto do restante da perda histórica. Caso contrário não estaria usando deste expediente.
As tais rodadas de negociação, em que a única coisa concreta, até o momento, é o ajustamento do valor do auxílio-refeição pelo IGPM anual em 1º de janeiro (nada mais que o cumprimento da lei que instituiu o benefício), não passam, portanto, de um triste e pobre circo.
Muito embora o ano esteja terminando, e a "mobilização" tenha arrastado por mais de três meses sem a deflagração do único instrumento capaz de garantir uma reposição salarial digna, a verdade, pura e simples, é que, diante da matreirice e autoritarismo do patrão, não há outro caminho para os trabalhadores da justiça a não ser a greve. Ao menos, é claro, que queiram perder mais R$ 70.000,00 (cálculo para os oficiais escreventes de entrância intermediária, salário básico), que nunca mais voltarão, nos próximos anos, e verem seu poder de compra afundar até o nível dos brigadianos e professoras do Estado.
Se a proximidade do final ano não permitir, é necessário, entretanto, a organização até março de 2009, de uma grande greve! Pois, mesmo votado e engessado o orçamento do próximo ano, é bom que se diga que, há cada período anterior, desde o último reajuste concedido, houve sempre a previsão orçamentária de praxe para recuperação anual da inflação (conforme manda a Constituição Federal e o Tribunal descumpre), ainda que nenhum de nós tenha visto a cor do dinheiro, que aliás não se sabe onde está... será que o gato comeu?