O rato vai roer a roupa do rei de Roma
Hoje cedo, entrando em nosso suntuoso Mausoléu da Injustiça, lembrei-me da célebre frase de Shakespeare, “também há vermes nos sepulcros de mármore”. A seguir, olhei para as minhas roupas puídas, vergastadas pelo tempo, compradas em liquidação de queima de estoque não sei de que ano, e achei que estava muito mal-vestida para entrar no meu ambiente de trabalho. Por instantes, tive medo de que fosse aplicada a mim a tal Ordem de Serviço que proíbe o uso de vestes inadequadas. Senti um calafrio na espinha ao imaginar mais uma sindicância sendo iniciada, agora por não possuir um guarda-roupa minimamente compatível com o meu cargo. Mas tudo bem, porque do jeito que vão as coisas, daqui a pouco o TJ será uma imensa colônia de nudismo. Os concursados serão reconhecidos pela prática coercitiva do naturismo. Ver-se-ão, tão-somente, os crachás verdes balançando (talvez haja outros penduricalhos, mas, enfim...) Ainda não fui barrada na porta, ufa, mas, felizmente, não sou a única nesta situação, pois todos que não têm aquilo roxo (o crachá) também andam fazendo o desfile da customização. Que bom que pelo menos a ditadura da moda não existe para nós. Deixêmo-la para os gabinetes, pois nossas necessidades não incluem bolsas Victor Hugo e chapinha no cabelo. Precisamos do salário para alimentar as crianças, mesmo.
Na foto, serventuários da Justiça dirigem-se aos locais de trabalho
Mas, como há “instantes em que os homens são senhores do seu destino” (como estou poética hoje, já baixou o Shakespeare de novo... poeta, pobre e apaixonada...), os meus colegas do 2º Grau realizaram uma Plenária no Teatro do IPE, de forma a restabelecer o sistema de freios e contrapesos aqui dentro. Explico: em primeiro lugar, reafirmo que, apesar da penúria salarial, continuo sendo uma ex-advogada, e, portanto, não deixarei de me exprimir juridicamente em função de assédio moral, ausência de reajuste ou outro intemperismo qualquer da egrégia ditadura administrativa. Voltando, destarte, ao sistema de freios e contrapesos, em que a discricionariedade de um poder esbarra no direito do outro, meus colegas decidiram impetrar um grande mandado de segurança contra a mudança de horário.
Sim, todo o Judiciário quer trabalhar das 12h às 19h. E já que este horário vigora no Tribunal há vinte e dois anos, celetistas e estatutários mante-lo-ão! Nossas deliberações incluem denúncia ao Ministério Público do Trabalho, pela tentativa autoritária da Presidência de legislar através de atos administrativos, em clara afronta à Lei. Segurança neles, gente!!! Convidamos todo o 1º Grau a se integrar nesta luta, porque queremos o fim da discriminação entre as instâncias. Vamos mobilizar todos os setores, fazendo verdadeiros “arrastões” com os colegas para dentro dos cartórios, a fim de conscientizar carneiros e congêneres.
Vamos denunciar os cargos comissionados, os gordos vencimentos, vamos nos fazer ouvir pela imprensa, seja de uma forma ou de outra. Não queremos trabalhar 10 horas, muito menos andar nus a partir do ano que vem, enquanto que nos gabinetes o naturismo é apenas uma opção. Na verdade, não somos nós que estamos nus... quem está nu é o rei, e deixamos um recado: não somos os bobos da corte, viu? Pode colocar o avental de molho!